Saunier em 24/12/2009 00:48
Sei que meu comentário não tem haver com o que se propõe o atual assunto, mas quero ''atualizar'' minha indignação. Até onde chega a pretensão e audácia:
''Azul Anil em 27/05/2009 09:03
(...) TODOS OS AUTORES CITADOS JÁ TIVE OPORTUNIDADE DE LÊ A MUITO, MAS ESBARRA NAQUILO QUE VC JÁ MENCIONOU "O FANATISMO" VISTO QUE ELES OU ERAM CAPRICHOSO OU ERA GARANTIDO. NA OBRA DE TONZINHO SAUNIER FOI NARRADO QUE ELE CONVERSOU COM O MESTRE LINDOLFO SOBRE O ASSUNTO, COISA QUE NÃO FOI FEITA DO LADO DO CAPRICHOSO, MESMO TENDO A ÉPOCA PESSOAS DA FAMILIA CID (E COMO TEM ATÉ OS DIAS DE HOJE) QUE PUDESSE DAR ALGUM TIPO DE INFORMAÇÃO A RESPEITO, FICANDO ASSIM A OBRA UM POUCO CAPENGA, INFORMAÇÃO DA FONTE DE UM LADO E CITAÇÕES DE OUTROS AUTORES DE OUTRO. MAS ISSO TEM UMA EXPLICAÇÃO: O FAMOSO "FANATISMO" CITADO. É SABIDAMENTE QUE TODA FAMILIA SAUNIER EM PARINTINS É COLORADA. QUALQUER PESSOA DA TERRA QUE FOR INVESTIGAR AS ORIGEM DOS BOIS, FICA PASSÍVEL DE SUSPEITA, VISTO AO FAMOSO "FANATISMO". AGORA O QUE A ODINEIA ESTÁ FAZENDO É DAR UM CUNHO CIENTÍFICO AOS ACONTECIMENTO, REUNINDO PROVAS (DOCUMENTOS) QUE SUSTENTEM A SUA TESE, COISA QUE NÃO SE VÊ DO LADO CONTRÁRIO.''
É verdade, Azul Anil, fanatismo não cabe, quando tratamos de fatos históricos tratados por pesquisadores sensatos! Por esconder a verdade, pagou-se e paga-se o preço da injustiça... Por causa do fanatismo -como nos relata a própria História- foram cometidas até muitas atrocidades... Mas, dizer que meu pai foi um torcedor fanático, se opõe de frente ao ofício de pesquisador, como muitos preferem definir... Desculpe, mas acho que tu não sabes nada da estória da minha família. Os Saunier, eram e são, em sua grande maioria, torcedores do boi Caprichoso. Meu avô, Alfredo Saunier, que fora um homem abastado (pecuarista), era Caprichoso, porque na época, como ainda se diz, o Caprichoso era o ''boi da elite'', por ter sempre padrinhos abastados e influentes, durante as décadas de 20 a 60. Com a criação de fundos para o apoio ao boi-bumbá, criaram-se, naturalmente, as diretorias. Mas, meu avô era um torcedor só de nome: pouco tocava no assunto. E nunca soube que ele tivesse contratado o Caprichoso pra dançar em frente de sua casa... Veja bem: falaste na ''família Saunier'' que se encontra em Parintins (dois núcleos). Há o núcleo a qual pertenço que é Garantido e outro que é Caprichoso.
Meu pai, Tonzinho Saunier, era uma pessoa simples que gostava de estar no meio do povo. Daí venha usa identificação com o boi Garantido, um boi de gente humílhima, originário de uma colônia de pescadores. Quantas vezes, pricipalmente na década de 80, ajudou muito o Garantido com pesquisas, e foi o primeiro contratado pelo mesmo, pra introduzir a questão indígena e ambiental em 1982, quando trouxe os saterê-mawé para dançar no ''Tabladão do Povo'', onde é hoje o Bumbódromo. Ainda assim, nunca foi homenageado pelo Garantido, ao contrário do Caprichoso, que o homenageou duas vezes: a primeira, em 1986, onde aparecia a foto de meu pai no estandarte, e, a segunda, em 2004, numa homenagem às pessoas que muito fizeram pela cultura do Estado e do Município de Parintins.
Meu pai era um torcedor apaixonado pelo boi Garantido, mas era mais apaixonado pela história, não por invencionices, não por incoerências que querem tratar a história como um brinquedo sujo, manuseado por conceitos forjados a fim de manipulá-la.
O fato do boi Caprichoso ter vários fundadores, duas cidades (Manaus e Parintins), de onde se discute a origem, e várias datas, dificulta muito o trabalho sobre a autenticidade de sua história. Dizer que a obra literária do meu pai foi ''capenga?? foi de uma infelicidade sem tamanho, pois vejamos: o Caprichoso tendo vários ''donos'' ou ''todos eles'', datas e cidades, implica numa história oficial, pois cada um quer ''puxar brasa pra sua sardinha''. Sendo assim, papai teria que ter feito a entrevista não só com os Cid, mas com os Gonzaga, Nascimento, Belém, Gadelha, a fim de ter não só uma versão, mas várias versões, e, certamente, dentro dessas versões, outra versões surgiriam, dada a polêmica que isso causaria. Na verdade, o Caprichoso tem uma triste tradição de tentar não aceitar todas as versões e, embora aceite, de tempos em tempos nascem outras versões. Com todo respeito à pessoa da Professora Odinéia Andrade, mas até hoje ela nunca publicou uma linha do que diz. É importante sua iniciativa, coragem e, principalmente, perseverança, a fim de que se chegue a uma resposta coerente. Deve ficar atarantada... E qual embasamento teórico pode ter, já que não existem registros? Pelo menos meu pai teve a felicidade de entrevistar o mestre Lindolfo Monte Verde que fora, como todos sabem, o único fundador do Garantido. Nesta entrevista, publicada no jornal ''A Tribuna'' (jornal de Parintins, décadas de 60/70) com o título de ''Prenúncios de Vitórias'', Lindolfo relata ao meu pai que o Garantido foi fundado em junho de 1920. O dia, não revelou. Essa data vem desmistificar uma pseudo- data (1913), por muitos anos sustentada pelo Garantido, como o de sua fundação. A data nasceu com o Caprichoso de Manaus. Inclusive com esse episódio, criou-se uma espécie de bloqueio e antipatia pelo meu pai de algumas pessoas do Garantido...Entretanto, parece que essas mesmas pessoas já aceitam hoje em dia...
Quando José Furtado Belém esteve em Manaus a estudo, (não a passeio) cursando a faculdade de direito, viu, certa vez, uma apresentação do Caprichoso na Praça 14, isto é, o boi Caprichoso de Manaus já tinha sido fundado. Nem a data da fundação do Caprichoso de Manaus se sabe. Essa teoria preferida por ti, Azul Anil, é a mais infundada que existe. Dizer que o boi Caprichoso migrou pra Parintins é ofuscar a verdade e sustentar uma mentira que se baseia no fútil orgulho de se afirmar que o teu boi tenha sido o primeiro. Fico mesmo é com a mais sensata versão, que se fixa em março de 1925. Versão, aliás, que não é do meu pai, mas do compositor e também pesquisador Raimundo Dutra. Ora, como ele é um torcedor ferrenho do Caprichoso, e fora seu compositor por muitos anos, e de família tradicionalíssima azul, nunca se omitiu ao fato de seu boi não ter sido o primeiro . Entretanto, pela versão (tradição oral) que é rica em descrição de detalhes, é a mais aceitável devido ao seu sensato desprendimento que começou com sua mãe, a senhora Cila Marçal, uma das precursoras, fundadoras de uma pastorinha, das mais tradiconais. Dona Cila faleceu a mais ou menos uns 20 anos. Tive a oportunidade de conhecê-la, em idade bem avançada (faleceu com mais de 100 anos de idade). Era dona de uma personalidade e caráter fortes, além da austera autenticidade. Tive a oportunidade também de assistir o seu depoimento no final do anos 80, em que diz que o primeiro boi foi o Garantido. Esse depoimento se encontra no Museu da Imagem e do Som, anexado ao Palácio Rio Negro (Manaus). Infelizmente, essa teroria só foi publicada em 1999, no livro de Paulo José cunha e Andreas Valentin, intitulado ''Caprichoso, a Terra é Azul??. Digo, infelizmente, porque meu pai já havia falecido a poucos meses depois. Inclusive este relato está publicado (meados dos anos 2000) no livro do Raimundo Dutra, cujo título não lembro. Com certeza meu pai daria mais crédito a essa versão que, pra mim, é a mais aceita.
Enfatizo, que falar do Caprichoso é falar de várias versões. Se meu pai não entrevistou os Cid, Nascimento, Gonzaga... Sabia que não iria chegar a um consenso, pois o Caprichoso nunca aceitou ser um boi de inverdades, agora prefere ser um boi que surgiu em outubro de 1913, na travessa Sá Peixoto (onde residia Luiz Gonzaga). Um boi fundado por uma promessa a São João Batista, comemorado em ''outubro''. Um boi que, prometido ao Santo (''boi de santo''), teria surgido como promessa de cura, de uma grave moléstia (igual a do Lindolfo... Pasmem!), agora, por melhores condições de vida, já que a aventura do eldorado da borracha já tinha ido pro beleléu, justamente no ano (1913)em que a produção asiática já superava a brasileira. Isso é cunho científico? Valha-me Deus...!
Então, Azul Anil, te informes antes de cometer equívocos. Sujeito a erros, todos nós estamos, mas não venha querer depreciar a obra do meu pai, porque por detrás das pesquisas, tu não imaginas o quanto ele esteve fortemente engajado durante mais de 40 anos de pesquisas, e o pior: sem apoio governamental algum. Exijo respeito quanto à autenticidades das pesquisas de meu pai! O descrédito das invenções só cabe às fábulas caprichoseanas (neste caso sem lições de moral), não a um pesquisador sério que nunca ganhou um tostão dos bois, e por muito tempo foi esquecido pelo folclore Parintinense, lembrado somente depois de morto, como é de praxe!
Espero que haja um pesquisador (a) que possa dar uma resposta positiva e convincente aos teus desejosos anseios, porque a verdade não pode ser ofuscada por conveniências. Se o Caprichoso tem história (e tem!), por que ele não prova sua autenticidade? Deveriam os pesquisadores entrevistarem os Cid (coerentes) mais velhos, porque os barrocos já se foram. Sinceramente, pouco me importa se o Garantido tivesse nascido depois do Caprichoso. A autenticidade e a tradição do Garantido é o que vale. A história é o que importa. Até o boi Campineiro, se estivesse ''vivo'', estaria exatamente com 32 anos, ou seja, tem mais história que teu boi, pois não viveria historiografando datas e fundadores. O Garantido tem mais autenticidade histórica. Houve erros, foi exemplo de fanatismo por alguns pesquisadores e curiosos, mas pelo menos é um boi que mais se aproxima de suas tradições, criadas pelo povo.
Há muito tempo que não venho acompanhando este site. Somente agora vi esta tua declaração infeliz, por isso, resolvi desenterrar defunto, pois, independente do pai que tive e de minha predileção pelo Garantido, tenho duas virtudes que a mim foram legadas: justiça e bom-senso!
Passar bem!