Saunier em 25/12/2009 14:20
Garantido Rei, é muito simples
Meu pai , Tonzinho Saunier, que fora pesquisador, entrevistou em junho de 1970, Lindolfo Monte Verde que disse essas palavras: ''eu tinha dezoito anos em 1920, quando 'botei' pela primeira vez o novilho, que completa este ano, 50 anos de existência e por isso estou alegre. O Garantido sucedeu o boi Fita Verde do meu compadre Izídio Passarinho, do Aninga??. Entrevista publicada em 28 de junho de 1970, no jornal ''A Tribuna'' (Parintins, década de 1960/70) com o título de ''Prenúncios de Vitórias??.
Essa versão pra mim é a mais aceita, não porque foi pesquisada por meu pai. Ora, saiu da boca do próprio Lindolfo, que foi o único fundador do Garantido. O fato dele ter contado errado (como alguns afirmam) pra mim não é sutentável. Ele tinha um boi sim, embora de uso doméstico, e acho estranho que esse boi tenha passado pela infância, adolescência, pra somente alcançar às ruas em sua maioridade, mas penso que o boi teve sua identidade arraigada no povo, a partir do momento em que reuniu poetas, compositores, brincantes e aficionados.
A data de 1913, remonta à primeira aparição do boi Caprichoso de Manaus. Certa vez, José Furtado Belém (primeiro Superintendente de Parintins), quando estava em Manaus, viu uma apresentação daquele boi, na praça 14. Doze anos depois, em março de 1925, ele e mais pessoas influentes de Parintins, reuniram-se na Escola ''Araújo Filho?? (que, na época, era o Paço Municipal), a fim de fundarem um boi. Foi sugerido o nome de ''Caprichoso??, já que Furtado Belém era admirador daquele boi. Certamente a data de 1913 seguiu com o relato do Furtado Belém, ao fato dele ter visto aquela apresentação, e, sendo os nomes dos bois iguais, imaginas a confusão...
A versão de 1925 pra mim é a mais aceita (pela riqueza de detalhes), e foi primeiramente registrada no livro de Paulo José Cunha e Andreas Valentin (Caprichoso, A Terra é Azul, 1999) depois, publicada no livro do próprio autor, Raimundo Dutra, em meados dos anos 2000, cujo título não lembro. Mas há quem afirme que, pela falta de registros é difícil estabelecer uma verdade incontestável (concordo) tanto pro Garantido, quanto pro Caprichoso. Meu pai já afirmava isso: ''é difícil alguém responder com segurança as perguntas, por falta de registros. Poucos são os que se preocupam com o passado e muitos são os que dizem 'que vive de passado é museu'. Os registros só começaram a aparecer, quando os festivais se tornaram oficiais e competitivos?? (O Magnífico Folclore de Parintins, 1989, páginas 42,43) Se não houve registros, a tradição oral foi a única ferramenta pra se ter pelos menos reminiscências, e certos pesquisadores atribuem a data de 1913 a estórias, que mais parecem contos da caronchinha, como é principalmente o caso do Caprichoso, que está mais envolto em confusões e desencontros. De tempos em tempos surgem versões em torno da data emblemática de 1913. Outra data o acompanha, como a de 1929 . Mas, sendo hipóteses, deveriam ser tratadas com o mínimo de coerência, não com a conveniência do fútil orgulho de se afirmar que foi o primeiro.
Os dois bois sofrem do mal do ''boi matusalém'', pra servir de mais um alvo de rivalidade entre os mesmos, porque a tradição tomou um caráter de ''quanto mais velho melhor??. É sabido que antes de Garantido e Caprichoso, existiram outros bois como o ''Diamantino'' do Piauiense Ramalhete, possivelmente entre 1910 e 1912, e o ''Fita Verde'', do Izídio Passarinho, do Aninga, mais ou menos entre 1910 e 1915 (O Magífico Folclore de Parintins, pag.42), Sendo assim, nada como retroceder no tempo com a legendária data de 1913...kkkkkkkk
Agora, cabe ao discernimento de cada um. Não quero (nem devo) discutir com idiossincrasias.
Abraço.