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Vale tudo entre os bumbás na busca do título

20/06/2008, Diário do Amazonas

Escutas telefônicas, espiões contratados, vírus em computadores, gravadores nos quartos de hotéis e nos barcos, sedução de jurados com lindas garotas com corpos à mostra. O vale-tudo para ganhar a simpatia dos jurados no Festival Folclórico de Parintins foi exposto em documentos aos quais o DIÁRIO teve acesso. Dois relatórios que aparecem assinados por uma pessoa que faz parte da chamada ‘Equipe Delta’ do Boi-Bumbá Garantido, a equipe responsável pela escolha e acompanhamento dos jurados.

O próprio vazamento dos relatórios internos do Garantido, de interesse do bumbá contrário, o Caprichoso, já demonstra o nível do vale-tudo para conquistar os títulos, independentemente do que for apresentado na arena do Bumbódromo. Aos documentos foram anexados páginas de rosto de e-mails com o nome de Milena Fagundes, da equipe do Garantido, para outros dirigentes do bumbá vermelho e branco, Armando do Valle, Felipe Junior, Juvenal Filho, Francisco Cardoso, Mirna Porto e Ely Rodrigues, entre outros.

Milena Fagundes disse, ontem, que chegou a fazer sim dois relatórios, mas que nunca os enviou por e-mail, como, segundo ela, é norma do Garantido, para evitar espionagem. Milena leu os documentos e disse que a maior parte foi ela quem fez. “Isso é grave porque alguém pode ter roubado minha senha de e-mail para fazer uma montagem”, disse ela. O que comprova que há espionagem e jogo de vale-tudo para ganhar o Festival.

Primeiro relatório

O primeiro relatório faz uma retrospectiva dos bastidores do Festival de 2006, quando o Garantido foi campeão. Diz que o bumbá vermelho merecia ganhar, mas que poderia ter perdido se não houvesse um bom relacionamento com os jurados. “O problema do som que houve nas duas noites foi solucionado por eles (Caprichoso), enquanto por nós não. O resultado foi uma perda de 1,6 pontos na terceira noite. Isso poderia ter nos levado à derrota”, diz. E cita ainda que houve problema no item Vaqueirada, que não tinha o número de componentes como determinava o regulamento e os jurados não consideraram.

Em várias partes do primeiro relatório, aparece o nome do designer Eduardo Barroso Neto, que foi presidente da Comissão Julgadora do Festival de 2006. Eduardo era o representante da empresa BDO Trevisan Auditores (responsável pela escolha dos jurados) . “Em 2007, provavelmente não teremos a Trevisam, não teremos a Márcia, o Paulo, a Denise, não teremos o Eduardo. E eu garanto que a minha amizade e do Armando (do Valle) com eles foram fundamentais na nossa vitória. Posso apostar, por exemplo, que teve dedo do Eduardo nas notas do Nemer (José Alberto Nemer, jurado), embora ele negue. Porque aquelas notas não refletem a realidade”.

Diz ainda o relatório: “Numa das nossas madrugadas, fui testemunha do Eduardo (Barroso Neto) brigando com dois jurados (Leri e Chico César) porque elogiaram o Caprichoso. Ele chegou a xingar os dois... Então ele disse tudo o que tinha de ruim no Caprichoso e bom no Garantido, que o Caprichoso não prestava, era uma porcaria, enfim... ele influenciava ou tentava influenciar”. Diz também que “todos os jurados foram escolhidos por um torcedor do Garantido”, no caso, Eduardo, representante da empresa BDO Trevisan Auditores.

Segundo relatório

No segundo relatório, sobre a derrota do Garantido em 2007, a pessoa diz que grande parte das suas recomendações não foi considerada e propõe uma vitória “humilhante, inesquecível, que se transforme em toada, outdoor, protestos”.

Indo aos fatos de 2007, o relatório diz que “começamos bem”, pois poderiam contar com ajuda “preciosa de pessoas influentes na área cultural de Mato Grosso, Santa Catarina e Bahia, que de alguma forma tornaram-se ‘colaboradores’ do nosso boi”. E ainda prossegue: “Assim, fui pra Campo Grande em companhia de Andréia Medeiros, o Wálber foi para Salvador com o Dernando Reis e o Felipe foi pra Florianópolis com o Marcan Uchoa. Nas três cidades, a equipe do Garantido conseguiu conduzir a escolha dos jurados. (...) Posso assegurar que só trouxe os jurados que escolhi, em acordo com o Armando (do Valle) e a equipe da Comissão de Artes, que deu as coordenadas do que esperavam cada jurado, em cada bloco de julgamento. (...) Praticamente todos os nove jurados eram indicados por ‘colegagens’ nossas, em boa linguagem parintinense”. Todos poderiam ter sido influenciados positivamente em relação ao Garantido, antes mesmo do início do Festival. E assim teria sido, não fossem os imprevistos que passaram a ocorrer em seguida. O ‘imprevisto’ foi que o Caprichoso conseguiu retirar a empresa da escolha dos jurados.

O relatório acrescenta que a ‘equipe Alfa’, como foi apelidada a equipe de fiscais e afins do Caprichoso, ao contrário do que acontecia nos anos anteriores e do que ‘esperávamos’, em 2007 estava ‘afiada’, com representante dentro da casa (dos jurados) muito bem treinados, “a Marlessandra (Santana, ex-item do Caprichoso), além de muitos ‘assessores’ a postos 24 horas, distribuindo presentes, brindes, mimos, providenciando tudo o que pudesse contar pontos na conquista do coração dos jurados”.

Diz também que na visita dos jurados ao ‘contrário’ (Caprichoso), “apesar da tradicional desorganização, pude notar um impressionante progresso. Além de mostrar bem de perto as enormes alegorias em movimento (o que sempre encantou a todos os jurados indiscriminadamente), o contrário organizou os itens (com todas as meninas maravilhosamente produzidas, lindas, com corpos à mostra e instruídas a ‘seduzir’ os jurados sem pena), as crianças da Escolinha de Artes e seus trabalhos...”.

No final, o relatório propõe “jogar pesado e sujo se for necessário”, pois “acho que é assim que eles (Caprichoso) jogam”. Propõe que a diretoria não hesite em plantar escutas telefônicas nos celulares das pessoas-chave dos ‘bastidores’ do contrário, vírus espiões nos computadores do Conselho de Artes, contratar espiões para acompanhar o ‘boi contrário’, enfim, tudo o que puder nos auxiliar em relação à apresentação do Garantido e no processo de escolha dos jurados: “Vamos plantar escutas nos quartos ou gabinetes do barco, bem como tentar monitorar os telefonemas para que possamos saber com certeza como pensam e votam. A pessoa que for responsável pelo acompanhamento dos jurados pelo Garantido também deve estar preparada para entrar nesse jogo de vale-tudo, estando disposta ao que for necessário para que a vitória aconteça”.