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Andréas Valentim conquista prêmio de fotografia

10/06/2004, Equipe Parintins.com

O professor, fotógrafo e designer gráfico Andreas Valentin (um dos autores de "Vermelho, um pessoal Garantido" e "Caprichoso - A Terra é Azul") acaba de conquistar o Prêmio Pierre Verger de Fotografia, patrocinado pela ABA - Associação Brasileira de Antropologia, com um ensaio sobre os Bois de Parintins, chamado "O verso e o reverso da rivalidade: a produção artística nos QGs do Boi-bumbá de Parintins".

A premiação se reveste de importância especial porque é concedida a cada dois anos. Tem por finalidade agraciar e reconhecer trabalhos fotográficos que reflitam uma sensibilidade estética aliada a conteúdo antropológico e investigativo. O prêmio será entregue na 24ª Reunião da ABA, em Olinda, em junho deste ano. Além de receber o prêmio, Valentin participará como palestrante de um Fórum sobre Performance.

Durante mais de seis anos, Valentin vem documentando os bastidores do Festival Folclórico de Parintins, pesquisando minuciosamente o trabalho dos artistas e artesãos nos ateliês, conhecidos como "QGs". Nesses espaços, cercados de segredos e mistérios, são produzidas as armas do embate criativo que se desenrola na arena do "bumbódromo", a grande arena especialmente construída para o evento, quando os Bois Garantido e Caprichoso promovem seu grandioso espetáculo.

Autor de dois livros sobre Parintins, realizados em parceria com o escritor Paulo José Cunha, Valentin é um profundo conhecedor da Amazônia, do Festival de Parintins, da cidade e de sua gente. Em abril de 2004 defendeu na Universidade Federal Fluminense sua dissertação de mestrado "Contrários: a celebração da rivalidade nos Bois-bumbás de Parintins". Em 340 páginas de texto e 250 fotografias que pretende editar ainda este ano, Valentin revela como uma situação de conflito é transformada, no festival do Boi-bumbá parintinense, numa celebração criativa e edificante.

O Festival Folclórico de Parintins é hoje uma das maiores manifestações populares do Brasil. Todos os anos, no final de junho, os Bois-bumbás, o vermelho Garantido e o azul Caprichoso, se apresentam na arena do bumbódromo da cidade e promovem uma celebração de dança, música e encenação dramática. Por meio de elaborados recursos cênicos - fantasias, figurinos, alegorias, efeitos especiais - são recriados mitos, ritos e lendas da Amazônia que se somam ao conteúdo original do Auto do Boi, resultando em um espetáculo complexo e em constante renovação. O espetáculo tem como força motriz a histórica rivalidade entre os dois Bois que, por sua vez, provoca um permanente impulso de superação através da arte. Dividida ao meio, a própria cidade reflete essa rivalidade, na sua geografia, nas suas relações sociais e no seu conteúdo visual e imaginário. O Festival é erguido sobre profundas raízes amazônicas que carregam conteúdo biológico, antropológico, histórico, social e cultural.

Fotografando os QGs: revelando e desvelando a rivalidade

Para conhecer a fundo os mecanismos e processos da rivalidade, característica maior do espetáculo em Parintins, Andreas Valentin precisou vasculhar a intimidade dos QGs dos Bois. QGs é como são chamados os espaços e ateliês onde são produzidas as enormes e complexas alegorias e elaboradas as fantasias e adereços que irão compor a apresentação. Muitos deles ocupam antigas fábricas de juta que, desativadas, transformaram-se nas fábricas dos sonhos e dos delírios dos criadores dos Bois. São espaços misteriosos, onde a arte é cercada pelo segredo e pela surpresa, ingredientes fundamentais para o êxito do espetáculo. Aqui, os elementos da apresentação - a razão de ser da rivalidade entre eles - são preparados e guardados sob total sigilo. Até mesmo dentro dos galpões e QGs é comum o artista vizinho não saber o que o outro está fazendo, para que não haja risco de vazar informação. Os acessos aos QGs exibem placas com dizeres tais como "Não entre sem permissão", "Segredo de Estado", "Perigo: risco de vida". É nos QGs que são fabricadas as "armas" e montadas as estratégias do conflito que irá se desenrolar no bumbódromo.

O ensaio fotográfico apresentado para concorrer ao prêmio Pierre Verger busca revelar aspectos da criatividade, da habilidade e, principalmente, do orgulho dos artistas e dos artesãos. Compondo os seus trabalhos com um vasto repertório de materiais regionais - como palha, juta, sementes, cascas e troncos de árvores - aliados a produtos industrializados, são pessoas como Wendell Fontenelle, Nil Martins, Sávio Butel, Gudu, Juarez Lima, Jair Mendes e tantos outros que conferem ao espetáculo dos Bois Garantido e Caprichoso sua beleza e sua originalidade. Do monumental ao delicado, do high tech ao low tech, eles utilizam todo o seu talento, sua técnica e sua inspiração aparentemente sem limites, para realizar verdadeiras obras de arte.

O caminho para compreender a festa de Parintins, para entender sua poesia, passa, necessariamente, por seus bastidores, por seu reverso. Misterioso e secreto, é comandado com maestria por centenas de homens, mulheres e jovens parintinenses, alguns dos quais retratados no ensaio fotográfico.

O Prêmio Pierre Verger de Vídeo e Fotografia

O Concurso de Vídeo Etnográfico foi criado na 20ª Reunião Brasileira de Antropologia, em Salvador, em 1996 e o de Ensaio Fotográfico foi criado na 23ª Reunião Brasileira de Antropologia, em Gramado em 2002. Em outubro de 1996, a reunião da Diretoria da Associação Brasileira de Antropologia aprovou, em Caxambu, Minas Gerais, o nome de Pierre Verger para titular do prêmio do Concurso. Antropólogo e fotógrafo, Verger nasceu na França em 1902, passando a residir na Bahia a partir da década de 1940, onde veio a falecer em 1996, deixando uma obra antropológica e fotográfica de inestimável valor.

Quem é Andreas Valentin

Filho de pais alemães, nasceu no Rio de Janeiro em 1952. Desde cedo, teve um contato muito próximo com as artes. Aos cinco anos de idade, começava a ter aulas de arte com o artista Helio Oiticica, com quem estudou e conviveu, em New York e no Rio de Janeiro. Estudou e viveu nos EUA por quatro anos, onde se formou em História da Arte e Cinema pela Swarthmore College, na Pennsylvania. Realizou inúmeros cursos adicionais, nas mais diversas áreas: cinema, arte, fotografia e design. É fotógrafo e designer gráfico. Viveu e trabalhou durante quinze anos na Amazônia, onde realizou uma vasta documentação. Possui hoje um completo banco de imagens de Parintins, de sua gente, de seu Festival Folclórico e da região amazônica, com mais de 20 mil fotografias. Fotografou para a VOGUE Brasil e foi sub-editor e fotógrafo da revista bilíngüe "Parintins: Cultura e Folclore". Em 2003, participou do VIII ABANNE (Congresso da Associação Brasileira de Antropologia, Norte-nordeste), onde apresentou o trabalho "O Boi-bumbá de Parintins: a rivalidade inventando uma nova identidade regional". Em setembro desse mesmo ano, ministrou, em São Luís, um curso intensivo de História da Arte, promovido pela Fundação Municipal de Cultura. Publicou inúmeros artigos em jornais e revistas. Foi, ainda, coordenador de projetos da Fundação Nacional de Arte e assistente de produção e direção no filme "Fitzcarraldo", de Werner Herzog, além de outros filmes e documentários da BBC, Thames Television, NBC. Dirigiu a Divisão de Comunicação da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Gabinete do Prefeito e foi assessor do Secretário de Planejamento e Coordenação Geral do Governo do Estado do Rio de Janeiro.
Escreveu, dirigiu e produziu documentários em vídeo na Amazônia. Nos anos 70, teve um vasto trabalho realizado em Super8, com vários filmes experimentais premiados em festivais no Brasil e no exterior.
Na Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, é, desde 1999, professor de História da Arte, Imagem Brasileira e Monografia; é, ainda, assessor acadêmico do Curso de Cinema.
É fluente em vários idiomas: português, inglês, alemão e francês.
É membro da ABA - Associação Brasileira de Antropologia.
É mestre em Ciência da Arte, pela Universidade Federal Fluminense